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segunda-feira, 26 de abril de 2010

A "dieta do grupo sanguíneo" - Fato ou ficção?


por Michael Klaper, M.D.




A teoria da "dieta do grupo sanguíneo" ganhou ampla atenção do público desde o lançamento de "Eat Right For Your Type" (Coma dentro de seu grupo) de Peter J. D'Adamo, N.A. A premissa básica do livro é que o grupo "O" é dominante, tipo caçador, geneticamente inclinado a comer carne enquanto os indivíduos do grupo "A" são vegetarianos dóceis e os do grupo "B" são consumidores onívoros de leite. No entanto, esta teoria que o livro promove, apresenta muitos problemas científicos e nutricionais que têm despertado o interesse de muitos cientistas e profissionais de saúde.

Por exemplo, o autor D'Adamo diz,  "... determinadas leguminosas, especialmente lentilhas e feijões, contêm lecitinas que se depositam nos tecidos musculares, tornando-os mais alcalinos e menos aptos para a atividade física." (p.53) Esta é uma afirmação científica muito grave e uma ideia preocupante se o seu grupo sanguíneo é O. Afirmações perturbadoras como esta devem ser apoiadas por sólidas evidências científicas - completas "com referências ao rodapé" - que  "Eat Right For Your Type" normalmente ignora. 



Para começar a convencer sobre os efeitos negativos das lecitinas, D'Adamo teria de publicar fotografias tiradas sob um microscópio, de fibras musculares de pessoas dos grupos O, A, B e AB que consumiram grãos ou lentilhas. (A toma de amostras de fibras musculares, tecido adiposo, etc., é uma técnica comum, confiável e praticamente indolor conhecida como biópsia e é realizada rotineiramente por pesquisadores em nutrição, fisiologia do exercício, farmacologia, envelhecimento e outras ciências). Fotografias de tecido deverá esclarecer os depósitos de lecitina nos músculos de pessoas do tipo O e não nos músculos de pessoas no grupo A. "Eat Right For Your Type" não possui fotos nem estudos que corroborem e apóiem suas especulações que, para mim, limitam gravemente a credibilidade deste livro. 



Para mim o que realmente coloca a teoria do "grupo sanguíneo" além dos limites da credibilidade é sua afirmação de que as proteínas da lecitina de alguns alimentos provocam a aglutinação do sangue em pessoas de determinados grupos sanguíneos que não são "geneticamente / evolutivamente adaptados" para 
comer esses alimentos. Aglutinação é um fenômeno muito grave e potencialmente nefasto, em que as células vermelhas do sangue se amontoam, formando coágulos irreversíveis. 



O que há de errado em ter  pequenos coágulos de glóbulos vermelhos pela corrente sangüínea? Os glóbulos vermelhos transportam oxigênio para as células e tecidos vitais, como cérebro, coração e rins. Para atender a essa  missão, as células vermelhas devem fluir através de capilares tão estreitos que devem ser alinhados em uma única linha. Se as células são aglutinadas por lecitinas ou qualquer outra coisa, os coágulos podem obstruir os capilares e bloquear o fluxo sanguíneo. Assim, o sangue será impedido de compartilhar a sua carga vital de oxigênio aos tecidos alimentados pelos os capilares. Células privadas de oxigênio tornam-se danificadas, e 
morrem. Como muitas pessoas não conhecem o seu grupo sanguíneo é de se supor que muitos de nós comemos regularmente alimentos "errados "para o nosso grupo sanguíneo (por exemplo: trigo para o grupo O, carne para o grupo A, etc) .. Assim, segundo a teoria de D'Adamo, todo mundo experimenta repetidas descargas de glóbulos aglutinados em sua corrente sanguínea, dia após dia, mês após mês, ano após ano. Se os capilares do coração, pulmões, rins, cérebro, olhos e outros órgãos essenciais estão sujeitos a repetidas descargas de glóbulos vermelhos aglutinados,a qualquer momento vão entupir, resultando em dano tecidual. O cérebro, 
coração, pulmões, rins e glândulas supra-renais em breve seriam danificados, o que poderia ser fatal para milhões de pessoas. 



Patologistas e outros cientistas médicos estariam bem familiarizados com "Síndromes de falência orgânica induzidas por lectinas". A existência e as complexidades de uma doença generalizada seriam tão bem conhecidas como aterosclerose. No entanto, não há conhecimento de qualquer descrição na literatura e nenhum patologista de meu conhecimento, jamais mencionou isso como causa da doença entre humanos. 



Quando leio uma afirmação generalizada como "os indivíduos do grupo O não  toleram todos os produtos derivados do trigo" (p.63), devo perguntar o que você quer dizer com "todos". Que se um indivíduo do grupo O comer um biscoito integral vão cair no chão com dores no abdômen e vômitos? Ou pior ainda,  "Dano cerebral imediato, devido à obstrução das células do sangue? Quanto trigo podem comer as pessoas do grupo sanguíneo O, antes que seu sangue se obstrua? Um pão de hambúrguer? Um macarrão? 



Não posso negar que muitas pessoas experimentam problemas quando comem trigo. Mas eu acho que aconteça por estas pessoas possuirem uma verdadeira alergia a trigo,  intolerância ao glúten, ou outro mecanismo mensurável. Como D'Adamo, admito que o trigo pode ser um alimento problemático para pessoas com colite e sempre recomendo removê-los da dieta. As lecitinas podem desempenhar um papel no processo inflamatório em algumas pessoas. No entanto, para convencer-me de que o tipo de sangue é o principal determinante no link dieta-colite,  "Eat Right For Your Type"  deveria fornecer evidências sólidas de que a disfunção do cólon induzida pelo trigo é uma condição peculiar (ou significativamente mais comum) para as pessoas do grupo O. No entanto, o texto de  "Eat Right For Your Type" é estranhamente desprovido de citações científicas e em consequência, não encontro nenhuma prova convincente da conexão lectina-colite neste livro.



Uma afirmação que me cria grande preocupação com a segurança dos conselhos dietéticos de "Eat Right For Your Type" na página 37. Apesar do conhecimento de que muitos  não-caucasianos são intolerantes a produtos lácteos, o livro recomenda que "os do grupo B de descendência asiática podem incorporá-los (produtos lácteos) lentamente em suas dietas. "Temo as consequências disto para muitos leitores com deficiência de lactase, pois serão gravemente atentados por cólicas abdominais, diarréia e, possivelmente, condições mais graves, tais como 
colite. 



Outro problema de "Eat Right For Your Type" é a afirmação: "Esta condição, conhecida por hipotireoidismo, ocorre devido ao fato de os indivíduos do tipo O não produzir iodo suficiente "(p.53). A realidade é que o corpo não "produz iodo", mas temos de comer alimentos que o contenha. Preocupar dezenas de milhares de leitores do tipo O que "não estão produzindo iodo suficiente" (que ninguém faz) e que, por isto estão em risco de desenvolver  hipotiroidismo é infundado e desnecessariamente preocupante. (O correto seria estimular as as pessoas a comer alimentos com bastante teor de iodo, especialmente se eles são vegetarianos ou vegans). 



Todos nós temos diferentes necessidades nutricionais e as pessoas são diferentemente adaptadas à diferentes tipos e quantidades de alimentos. No entanto, eu não acho que estas diferenças são significativamente determinada pelo grupo sanguineo. Certamente eu não encontrei nenhuma pesquisa ou prova científica em  "Eat Right For Your Type" que me mostre o contrário. Minhas sugestões (admito excessivamente simplificadas) para a nutrição ideal é prestar atenção ao  que seu corpo lhe diz e concentrar sua dieta em alimentos frescos e integrais - cultivados de forma orgânica, e servidos com grandes porções de amor e risos.

Dr. Michael Klaper graduou-se na University of Illinois College of Medicine, em Chicago , em 1972. Ele serviu o seu Internato Médico no Hospital Geral de Vancouver, em British Columbia, Canadá teve um treinamento adicional em cirurgia, anestesiologia, ortopedia e obstetrícia da Universidade da Califórnia em San Francisco Hospitais. Ele é o produtor do vídeo "‘Diet for all Reasons" (Dieta para todos os motivos), e do livro "‘Vegan Nutrition: Pure & Simple" (Nutrição Vegan: Pura e Simples).

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